JORNALISTAS X INFLUENCIADORES






O embate entre jornalistas e influenciadores digitais está longe de ser uma guerra com as dimensões trágicas dos conflitos globais, como os da Ucrânia ou do Oriente Médio, que ceifaram milhares de vidas. No entanto, trata-se de um conflito ideológico e profissional que ameaça lesar uma multidão de profissionais que dedicaram anos ao estudo e à prática jornalística.

Mas afinal, que cenário preocupante é esse?

Estamos falando da substituição de profissionais qualificados por influenciadores digitais nas telas das principais emissoras de televisão. Esse movimento, encabeçado por algumas empresas de comunicação, como o SBT, prioriza números de seguidores e engajamento em redes sociais em detrimento da formação, ética e experiência profissional.

CREDIBILIDADE NÃO SE MEDE EM SEGUIDORES

Ter uma legião de seguidores não equivale a possuir a credibilidade necessária para estar à frente de uma câmera em um veículo de comunicação tradicional. Influenciadores que produzem conteúdos de entretenimento, como dancinhas, vlogs pessoais ou exibições de rotina fitness, podem ser carismáticos e gerar engajamento. Contudo, isso está longe de ser suficiente para ocupar o espaço que deveria pertencer a profissionais da comunicação preparados para lidar com fatos, verdades e interesses coletivos.

Um jornalista não conquista seu espaço da noite para o dia. Ele investe tempo e dinheiro em formação, enfrenta a concorrência acirrada e, muitas vezes, trabalha em condições adversas para informar com responsabilidade e precisão. Portanto, colocá-lo no mesmo patamar de um criador de conteúdo que viralizou nas redes sociais é desrespeitoso e prejudicial tanto para os profissionais quanto para o público.

O AMADORISMO QUE DOMINA AS TELAS

Essa escolha de substituição promovida pelos veículos de comunicação pode ser definida em uma palavra: amadorismo.

É um retrocesso que revela:

Falta de respeito pelos profissionais da área

Desvalorização da ética jornalística

Desconsideração do público consumidor de informação

Recentemente, ao assistir a diversos programas de TV, percebi um padrão preocupante: conteúdos repetitivos, sensacionalismo barato e falta de profissionalismo. Em alguns casos, o cenário é ainda pior: programas que não oferecem absolutamente nada ao telespectador, como é o caso do "Sabadou com a Virgínia", do SBT. Trata-se de um programa vazio, sem propósito, sem conteúdo relevante e, principalmente, sem um profissional qualificado para conduzi-lo.


INFLUENCIADOR NÃO É JORNALISTA

Quero deixar claro que reconheço a importância do trabalho dos influenciadores digitais. Inclusive, eu mesmo, Gerson Geovanni, atuo nessa área, promovendo marcas e produtos de maneira profissional, planejada e ética.

Contudo, é fundamental separar as duas funções:

O jornalista é um formador de opinião que trabalha com fatos, ética e responsabilidade social.

O influenciador digital é, na maioria das vezes, um promotor de entretenimento e consumo, focado em engajamento e vendas.

Quando um influenciador assume o papel de jornalista sem a formação e preparo necessários, o que se vê é desinformação e perda de credibilidade. E o mais grave: um espaço que deveria ser ocupado por um profissional capacitado é entregue a alguém que não tem o conhecimento básico da função.

O DECLÍNIO DO SBT

No caso específico do SBT, a ausência de Silvio Santos é um divisor de águas. Sua partida deixou um vazio irreparável. Seus sucessores, apesar de terem convivido por anos com o mestre da comunicação, demonstram não ter aprendido o essencial sobre o respeito ao público e à qualidade do conteúdo transmitido.

Enquanto essa prática de substituir jornalistas por influenciadores continuar, o que veremos é a banalização do conteúdo televisivo e a perda de relevância dos veículos de comunicação tradicionais.

É necessário refletir: qual o papel da televisão na formação de opinião?
E, principalmente: que tipo de conteúdo estamos entregando para a sociedade?

Seguimos em frente, na esperança de que a valorização do jornalismo profissional volte a ocupar o espaço que nunca deveria ter perdido.